A Nova Geração dos Filhos do Quarto
Antes, perdíamos nossos filhos nos quintais de casa, nos rios, nos matos, nos mares. Hoje temos perdido nossos filhos dentro do quarto. Quando brincavam nos quintais ouvíamos suas vozes, escutávamos suas fantasias, brincadeiras e opiniões. E ao ouvi-los, mesmo à distância, sabíamos o que se passava em suas mentes. Quando entravam em casa não existia uma TV em cada quarto e nem dispositivos eletrônicos em suas mãos com internet e um mundo virtual a ser devorado.
Hoje não escutamos as suas vozes, não ouvimos seus pensamentos e fantasias. Não ouvimos o que pensam, o que sentem, o que querem depois da escola. As crianças estão ali dentro de seus quartos, e por isso pensamos que elas estão “em segurança”. Mas que segurança temos na internet hoje?
Agora ficam com seus fones de ouvido, trancados em seus quartos cheios de tecnologia e seguras em seus mundinhos, construindo saberes sem que saibamos quais são. Não sabemos mais o que são importe para eles, o que pensam sobre a vida, os amigos da vida real, sobre o que querem fazer no futuro.
Perdem literalmente a vida, ainda vivos em seus corpos, mas mortos em seus relacionamentos com seus pais, fechados em um mundo global de informações e estímulos, de modismos passageiros, celebridades instantâneas, em que nada contribuem para a formação de crianças seguras e fortes para tomarem decisões moralmente corretas e de acordo com seus valores familiares.
As famílias de hoje estão se perdendo e perdendo a nova geração de filhos do quarto, pois os filhos do quarto não sabem mais quem são ou o que pensam suas famílias. Os valores familiares estão perdendo espaço para os valores globais, da coletividade individualmente vivida. Sendo assim, já estão mortos também em sua identidade familiar.
A nova geração dos filhos do quarto se tornam uma mistura de tudo aquilo pelo qual são influenciados na internet, e nós pais nem sempre sabemos o que os filhos estão aprendendo nem o que eles são de fato hoje. Os pais não estranham esses comportamentos dos filhos porque a tecnologia conectada pela internet se tornou uma excelente babá eletrônica para acalmarem as crianças, mantê-las ocupadas e deixá-los dentro de casa, para assim ficarmos tranquilos e seguros como bons pais que somos.
Nós profissionais de saúde temos visto muitas famílias doentes, sem entenderem porque os seus filhos estão tão distantes dos pais ou tão doentes emocionalmente. Temos visto crianças que se sentem abandonadas dentro de casa e que preferem não recorrer aos pais quando precisam de alguma coisa. Vemos muitas crianças deprimidas e ansiosas, se sentindo pouco amadas ou compradas.
Quer mudar esse cenário em sua casa? Então, brinque com seus filhos, divirta-se com eles, escute as suas vozes, suas falas, seus pensamentos. Sinta a grande oportunidade de tê-los vivos em casa, por ter seus filhos “dando trabalho”, para que eles aprendam a viver em família, sentindo-se amados e pertencentes ao lar. E você saberá o que eles são de verdade, e eles poderão contar com você para o que precisarem.
O amor então poderá fluir sem a interferência da tecnologia. Não precisamos dela para amarmos e muito menos para cuidarem de nossos filhos. Ame, viva, brinque, escute!
*Adaptação da Psicóloga Patrícia Machado do texto de Cassiana Tardivo.
Para saber mais, fale com a psicóloga. Para saber como podemos ajudar você e seu filho, veja como funciona nosso Programa de Orientação de Pais.
Por Psicóloga Patrícia Machado (CRP 01/9368).
MBA em Clínica Interdisciplinar da Infância e Adolescência e Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental.